Você hoje já olhou para o seu
colega do lado?
O texto vai ser longo. Não foi
proposital. Mas só vai ler quem tiver afim.
Tivemos mais de cem colegas do
Centro de operações CENOP em Recife que terão de se virar para saber o que vão
fazer de sua vida funcional no mar de oportunidades que a empresa lhe criou sem
combinar com eles, sem combinar com elas.
O Banco muda seu modelo para se
adaptar aos “novos tempos”, para conseguir “sobreviver diante dos novos
paradigmas”. Mas que novos tempos e que novos paradigmas? Quem os definiu?
Tudo é nominado por seres
inanimados, respostas impessoalizadas para evitar-se o questionamento, o
confronto direto aos verdadeiros responsáveis: banqueiros, grandes
especuladores, os grandes capitalistas.
E passa-se a ideia de que são os
clientes ou o povo que quer. Quando se torna impossível enganar, então, afirma
ser a mudança algo inevitável.
As desculpas são as mais
mentirosas: “Mas o Banco lhe oferece mais oportunidades, mais canais...”
Foi assim quando – numa das ondas
de reestruturação produtiva no sistema financeiro – foi diminuído significativamente
o número de trabalhadores e trabalhadoras, desde caixas a diversos postos de
atendimento.
Agora o cliente não paga suas
contas no Banco. Ele foi empurrado para casas lotéricas, farmácias e vários
outros postos de atendimento com trabalhadores e trabalhadoras não-bancários
muito mais baratos.
Não foram as pessoas que
escolheram as filas das lotéricas ou as farmácias, foram os bancos que diminuíram
nossos postos de trabalho empurrando as pessoas para outros locais de
atendimento. Não foi uma alternativa. Foi uma imposição.
Olha o outro fim de alternativa: “Não
recebemos tais tipos de papeis, só recebemos até determinado valor se for em
espécie...” E sempre com uma justificativa “técnica” para escamotear o verdadeiro
objetivo: a diminuição dos postos de trabalho.
As tecnologias não têm servido
para diminuir a jornada de trabalho, mas os postos de trabalho, ou barateá-los.
Contar dinheiro? Não precisa ser bancário.
Temos o processamento eletrônico de envelopes.
Emprestar dinheiro? Não precisa
ser bancário. Pode ser um agente de crédito terceirizado utilizando inclusive a
própria estrutura do banco.
Abrir conta? Idem.
Tudo feito por trabalhadores mais
baratos. E que ganham de acordo com... as metas, as vendas, os produtos.
Ora, e a gente vai cair também
nessa cilada...
Agora vai ter mais remuneração
variável. Além da PLR, posso ganhar PDG pelas metas atingidas...
Pra que brigar por salário, não é
mesmo? Para que aumentar o salário, se posso ter mais gratificações por metas?
O trabalho bancário cotidiano
ético e responsável passa a ser desvalorizado diante do atingimento do alto volume
de negócios concorrencial.
Os negócios passam a ser
questionáveis. Se as metas viram parte significativa do que vai garantir um
salário maior, a pressão já é do bolso do próprio trabalhador para “fazer de
tudo” para atingir a meta.
Maior parte dos nossos salários
já vêm do exercício de funções. Acabamos por depender delas para ter alguma
dignidade salarial.
E agora vamos começar a depender
cada vez mais das remunerações variáveis.
Como o patrão é sábio.
Mas a maior inteligência do
patrão está em fazer a gente pensar e agir como se fosse... patrão.
Não esqueço de um certo gestor
que disse uma vez, lembrando a época de várias demissões e transferências de
colegas num dos movimentos da reestruturação produtiva levada a cabo em nossa
empresa.
Ele falava das listas que eram
feitas com os nomes dos colegas que seriam transferidos. E se virando para um
colega recém-nomeado, disse: “Não trabalhe para ser o cara que não estará na
lista. Trabalhe para ser o cara que vai fazer a lista!”
E a gente? Quem vai ser a gente
que vai lutar para rasgar a lista? Para impedir que a lista exista?
Essa é a grande pergunta, a que
deve nos nortear.
Cada vez mais a empresa adota
suas práticas, promove reestruturações, mexe na vida dos trabalhadores e
trabalhadoras, dos clientes, sem qualquer tipo de diálogo.
O “diálogo” que vem depois não é
diálogo. É uma “explicação” de como você vai fazer para se virar.
Se a empresa é feita pelos funcionários,
se ela depende dos funcionários, se quem faz o lucro do Banco é a “rede”, por
que nunca somos convidados para decidir juntos?
Lateralidade, planos de funções,
nada, nada somos chamados para discutir juntos. Nada que possa contrariar os
interesses de um “mercado”. Mas e quem é o mercado? As pessoas, os
trabalhadores e trabalhadoras não fazem parte deste mercado?
O mercado é dos donos, enquanto
os verdadeiros donos, os peões, não tomarem o controle.
Hoje foram os colegas de Recife,
de outra cidade, de outro estado.
Hoje ainda pode ser algum(a)
outro(a) colega que você conhece ou que ouviu falar.
Mas e aí? Você só vai se importar
quando for com você? E alguém vai se importar quando for com você? Será o
suficiente?
OUTRA MENTIRA: “Mas sempre haverá
vaga para os melhores...” Não. Quem determina o número de vagas é o patrão. A
menos que o peão se revolte e lute.
Não há vagas para todos os
melhores, há menos que, de fato, sejamos melhores suficientes para lutarmos.
Lutarmos e não permitirmos que
nenhum(a) colega fique pelo caminho.
Melhores para fazer da empresa a
nossa empresa e não a de meia dúzia de banqueiros.
O Banco podia ser... do José (não
o Sarney), do Pedro (não o Malan), do Henrique (não o Meireles), da Cristiane
(não a filha do Roberto Jefferson), da Maria, da Joana...
Do povo brasileiro.
O Banco lucrou. O Banco dá lucro.
Não vão privatizá-lo! Alguns dizem.
Mas ninguém percebe que ele já
está privatizado? Vendê-lo é só uma questão de escolha.
E essa escolha não deixará de ser
feito porque ele é lucrativo. Essa escolha tem a ver com os interesses dos
banqueiros.
E os nossos interesses? Só quando
nos organizarmos para defender os nossos interesses, o jogo vai virar.
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