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CAIXA ECONÔMICA: REESTRUTURAÇÃO OU DESESTRUTURAÇÃO?

A Caixa Econômica Federal anuncia um plano de “reestruturação” para reduzir custos, centralizar serviços e aumentar sua lucratividade com uma exploração ainda maior sobre os bancários.

Este filme já foi visto no BB, em que setores inteiros foram 'desmontados' para centralizarem em Recife (PE). E, infelizmente, o fim foi trágico: os funcionários/as foram derrotados. E agora novamente o Banco pretende implantar setores de suporte!

A lição que fica é que infelizmente a direção do movimento sindical que hoje está majoritariamente nas mãos da CUT não nos serve para defender nossos interesses.

O início do mês de março foi um verdadeiro pesadelo para os bancários da Caixa Econômica Federal que trabalham nos setores administrativos (filiais) da empresa. Em decisão unilateral e absolutamente autoritária, a direção da Caixa decidiu implantar um plano de “reestruturação” das filiais, que determina – sem qualquer consulta ou debate com os trabalhadores – a centralização, fusão e extinção de diversas unidades administrativas.

O resultado disso é que uma grande quantidade de empregados que até então trabalhavam nessas filiais serão obrigados a migrar para outras cidades do país se quiserem manter suas atuais funções, ou, procurar outro local para trabalhar – muitas das vezes diminuindo salário e abrindo mão de outras garantias.

Trata-se, portanto, de mais um ataque brutal da direção da Caixa, que tem à frente uma ex-sindicalista de inteira confiança do governo Lula – Maria Fernanda Ramos Coelho – infelizmente, para melhor executar as mesmas políticas neoliberais aplicadas pelos governos anteriores.

E a CUT, com seus sindicatos atrelados ao governo, ficam apenas em notas e "bandinhas".


Centralização: uma política deliberada a serviço do “Estado Mínimo”

A centralização dos serviços já é uma política conhecida pelos empregados da Caixa. Nos governos Collor e FHC, a orientação dada à empresa era de centralizar nas grandes metrópoles as atividades que não eram consideradas bancárias (infra-estrutura, recursos humanos, segurança, tecnologia, etc.), abrindo espaço para que essas atividades fossem terceirizadas em grande parte do país.

A terceirização se apóia basicamente em duas concepções: reduzir os custos com folha de pessoal através da contratação de empresas que exploram trabalho precarizado (trabalhadores que exercem a mesma atividade, mas na modalidade de “prestação de serviços” e, por isso, ganham salários muito menores); e desobrigar o Estado da execução de atividades que, na ótica neoliberal, “devem ser exercidas pela iniciativa privada”.

Essa política, portanto, era uma decisão deliberada de privatização gradativa, na medida em que a iniciativa privada aumentava sua influência no cotidiano da Caixa e, ao mesmo tempo, diminuía a responsabilidade do Estado sobre todas as atividades da empresa, deixando-a cada vez mais “enxuta” e preparada para ser comprada por grandes corporações financeiras. Essa mesma política foi aplicada em inúmeras empresas como, por exemplo, na Vale do Rio Doce, na EMBRAER e no antigo Banespa – todas elas já totalmente privatizadas.

Infelizmente esta é mais uma demonstração da política neoliberal no governo Lula.


As primeiras faturas da crise econômica começam a chegar

Há também outro elemento importante que explica essa política adotada no atual governo. Durante o auge da crise econômica, o governo não teve nenhum constrangimento em tentar contornar a crise salvando os lucros dos capitalistas e especuladores nacionais e internacionais.

Ao invés de garantir a estabilidade no emprego e estatizar as empresas que demitissem, colocando-as sob o controle dos trabalhadores, Lula socorreu as empresas e os bancos com mais de 300 bilhões de reais e para isso, utilizou tanto o Banco do Brasil quanto a Caixa para comprar ações e incorporar instituições financeiras à beira da bancarrota.

Mas uma hora essa conta precisaria ser paga e as primeiras faturas estão chegando para os trabalhadores da Caixa. Com a nova “reestruturação”, além de fomentar um processo de privatização silenciosa, a direção da Caixa pretende, ao centralizar os serviços, deixar que todo trabalho das filiais antes realizado por uma quantidade maior de trabalhadores seja feito por um contingente mínimo de empregados, que serão super-explorados nas unidades que se fundirem ou que forem centralizadas a partir do fechamento de outros setores.

Na outra ponta do processo, os trabalhadores que perderam seus postos serão direcionados em sua maioria para o setor negocial (agências), mas não para amenizar o ritmo de trabalho e a pressão absurda por metas quase inalcançáveis. O objetivo da Caixa é submeter os recém-chegados nas agências ao mesmo nível de exploração ao qual estão submetidos os que hoje trabalham nas unidades de ponta para aumentar a lucratividade do banco e utilizar esses recursos não a serviço dos interesses dos trabalhadores, mas para pagar a conta de uma crise que é de responsabilidade da burguesia e do capitalismo.


A CUT mais uma vez se cala diante dos ataques do governo


Infelizmente, essa “reestruturação” imposta pela Caixa e pelo governo federal não vem sendo combatida pela CUT, que controla a maioria das entidades do movimento sindical bancário do país.

Logo após o anúncio do plano, a CUT se limitou a comentá-lo “criticamente”, questionando apenas o “motivo” da Caixa ter agido dessa forma, sem apontar qualquer sinalização de que vai organizar os trabalhadores para lutar contra esse ataque.

Para se ter uma idéia, A FENAE (Federação Nacional das Associações dos Empregados da Caixa), que é ligada à CUT, afirmou em nota que apenas “questionou” à presidenta da Caixa se “não haveria como suspender essas mudanças”, enganando os trabalhadores para fazê-los crer que é possível obrigar a empresa a recuar sem construir as lutas. Um de seus diretores, também em nota, chegou ao ponto de afirmar que “considerando o ano eleitoral”, não vê “outra razão para essa insanidade a não ser os interesses da oposição (PSDB) que ainda atuam (nas sombras?) na alta direção da Caixa”.

Como podemos ver, a CUT não apenas se omite diante dos ataques do Governo Lula, como também não tem nenhum pudor em tentar ludibriar os trabalhadores ao insinuar que os responsáveis pela política de uma estatal controlada pelo Governo Lula seria a oposição de direita (PSDB), e não o próprio Lula.

Infelizmente, é porque tais políticas do atual governo se assemelham ou são continuidade de governos anteriores.

Durante os governos Collor e FHC, a CUT rechaçava as políticas privatizantes de centralização e colocava (acertadamente) toda a responsabilidade por isso nas políticas neoliberais dos governos. Agora, com Lula à frente desses ataques, a CUT se cala e se nega a construir a resistência, mostrando a sua falência absoluta como instrumento de luta da classe trabalhadora.

Somente com lutas é possível derrotar os ataques de qualquer governo aos bancários.

Não queremos a volta do PSDB e sabemos que o período dos governos da direita tradicional foram anos de chumbo para os bancários e a classe trabalhadora como um todo. Mas, por outro lado, o Governo Lula que encheu essa categoria de esperanças, foi uma decepção. Os bancários continuam trabalhando em ritmo alucinante, continuam adoecendo, recebendo pressão para atingimento de metas e continuam tendo o salário cada vez mais rebaixado, na medida em que Lula nunca se dispôs a fazer um plano de reposição das perdas da categoria.

Por isso, independente de qual seja o governo, as organizações dos trabalhadores e trabalhadoras devem ser sempre autônomas, livres, independentes.

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