25/4/2010
Previ. Um cargo que vale R$ 142 bilhões
A eleição mais importante da economia brasileira tem data para acontecer – e não é a de 3 de outubro, que escolherá o sucessor do presidente Lula. No dia 31 de maio, a Previ, maior fundo de pensão do País, com um patrimônio de R$ 142 bilhões e tentáculos em todos os setores da economia, com investimentos em empresas comoEmbraer, Vale, Oi e Brasil Foods, terá um novo presidente.
A reportagem é de Denize Bacoccina e Guilherme Queiroz e publicada pelo Dinheiro, edição 28-04-2010.
O atual, Sérgio Rosa, sai para se dedicar à arrecadação de recursos da campanha de Dilma Rousseff. E sua sucessão já abriu uma guerra nos bastidores do poder em Brasília. O comando do Banco do Brasil, com apoio do ministro Guido Mantega, tem um candidato. É o vice-presidente de Novos Negócios do BB, Paulo Cafarelli.
A ala mais ligada ao PT e ao sindicato dos bancários, que hoje manda na Previ, tenta emplacar o atual diretor de participações da fundação,Joilson Ferreira. Correm por fora outros dois nomes: o de Fábio Moser, diretor de investimentos da Previ e o do vice-presidente de Gestão de Pessoas do BB, Robson Rocha. A disputa é acompanhada de perto pelo presidente Lula, que considera o cargo tão importante quanto o de um ministro. E cabe a ele a palavra final sobre o escolhido.
Os dois favoritos têm perfis distintos. Atual braço direito de Sérgio Rosa, Joilson Ferreira é visto como o “candidato natural” porque se especula sobre um mandato tampão, já que o vencedor da eleição presidencial de outubro pode querer mudar a presidência tanto do BB quanto da Previ.
Ferreira é um militante histórico do movimento sindical e também o preferido do ex-presidente do PT Ricardo Berzoini. Seu principal concorrente, Paulo Cafarelli, entrou no banco como menor aprendiz e é homem de confiança do atual presidente, Aldemir Bendine, bem como do ex-ministro Antônio Palocci, hoje um de seus cabos eleitorais.
Muitos avaliam que um candidato com perfil técnico, como Cafarelli, seria o mais adequado para o atual momento da Previ. Mas o vice-presidente do BB enfrenta resistências no PT. Nesse cenário, cresce o nome de Robson Rocha, um petista que progrediu na carreira negociando o fim de greves com o movimento sindical. Mineiro, ele é próximo de Luiz Dulci, secretário-geral da Presidência da República e é considerado um funcionário capacitado, com especialização em marketing e administração.
Na Previ, foi chefe de gabinete de Sérgio Rosa e hoje ocupa a presidência do Conselho Deliberativo do fundo. Com menos chances de vitória, desponta Fábio Moser, um funcionário do BB, que já foi diretor da Brasil Telecom.
O novo presidente terá a difícil tarefa de conciliar a rentabilidade do fundo, enquanto atende aos pedidos do presidente Lula para ajudar na formação de grandes grupos nacionais. Função desempenhada com sucesso por Sérgio Rosa, que conseguiu multiplicar o patrimônio da instituição, de R$ 43,5 bilhões para R$ 142,6 bilhões, em sete anos de administração, e também passou a ocupar mais espaços nas empresas onde tem participação acionária.
Na Vale, com 22% das ações, ele preside o conselho de administração. Na Neoenergia, com 49% do capital, participa das decisões estratégicas. O fundo tem ainda 180 conselheiros que atuam nas assembleias de empresas como AmBev, Bradesco, Brasil Foods, Cemig, TIM e Souza Cruz.
“Qualquer movimento da Previ é sentido, porque o fundo ou controla ou tem participação importante nas grandes empresas. E o novo presidente, certamente, ocupará uma das posições de maior destaque na economia brasileira”, diz Wagner Salaverry, do Banco Geração Futuro de Investimentos.
O escolhido no fim de maio controlará também um superávit que se acumulou com o bom desempenho do fundo nos últimos anos (com exceção de 2008) e chega a R$ 44 bilhões, dos quais R$ 26 bilhões ainda têm destino incerto e poderão até ser distribuídos entre os associados. Além da escolha do presidente, serão trocadas, em maio, três das seis diretorias da Previ.
Uma será ocupada por um nome escolhido pelo conselho diretor do BB. Os outros dois diretores serão eleitos, entre 17 e 27 de maio, como representantes dos funcionários. Seja qual for o resultado, o maior império capitalista do Brasil, mas ainda sujeito a fortes influências políticas, estará sob nova direção, a partir de junho.
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