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ENTRE – VISTAS


ENTRE – VISTAS
__________Diversos pontos de vista__________
1ª EDIÇÃO BLOG MAIS BANCÁRIOS

Nesta primeira edição do “Entre-Vistas”, o Blog Mais Bancários, oportunamente no mês em que se comemora e se revive a luta de todas as mulheres, entrevista Rita Josina, uma mulher. guerreira e sensível. eleita presidenta da AFBNB – Associação dos Funcionários do Banco do Nordeste e conversa sobre questões ligadas ao Banco do Nordeste e seu funcionalismo, a toda a categoria bancária e a questões de gênero.
Acompanhe esta edição:

BLOG: Rita, você assumiu agora em janeiro a gestão da AFBNB, depois de uma vitória expressiva junto aos funcionários (as) do Banco do Nordeste. Como você avalia este respaldo da categoria ao projeto coletivo defendido pelo grupo que hoje está na diretoria da AFBNB?

RITA JOSINA: Na minha avaliação, o resultado desta eleição foi uma aprovação da categoria ao trabalho que a AFBNB vem fazendo. Primeiro, pelo fato da diretoria estar muito bem representada por pessoas que têm uma história de luta, têm liderança e reconhecimento junto a sua base, tanto na direção geral aqui em Fortaleza, como nas diversas unidades nos estados. Foi feito um grande exercício de composição para a atual diretoria, capaz de garantir uma visibilidade em termos de atuação, de história e que tivéssemos pessoas comprometidas com o projeto e as bandeiras que nossa entidade vem trabalhando até agora. A AFBNB está sempre presente no dia-a-dia, nas lutas, nos movimentos grevistas, nas discussões sobre o Banco, pautando a discussão sobre seu papel no desenvolvimento social do Nordeste e no reconhecimento de todos os trabalhadores (as) que atuam na instituição BNB. Por isso mesmo, temos lutado para garantir o retorno de benefícios retirados pela gestão anterior. A AFBNB não se omite em manifestar-se. Dispomos de diversos canais de comunicação e atuamos em reuniões nos locais de trabalho. Além do site da entidade, trabalhamos com informativos online que trazem notícias pertinentes a todo o funcionalismo, e ainda temos o jornal e a revista. Todos eles se constituem em instrumentos para melhor informar sobre quais são as principais lutas e desafios da categoria. Foi este trabalho que se refletiu no respaldo da categoria. Pois, além da renovação que temos nesta atual diretoria, ela é uma continuidade de todo um projeto, um trabalho que vem sendo levado a cabo nas últimas gestões.

BLOG: Todo início de gestão, vocês, da diretoria, organizam-se e fazem um planejamento estratégico. Podemos saber quais as prioridades desta nova gestão que terá agora você como presidenta mulher da entidade?

RITA JOSINA: De fato, buscamos organizar nosso planejamento estratégico previamente ao início da gestão. Funciona tanto para direcionar as atividades da diretoria, de acordo com o que foi estabelecido no planejamento, como para garantir um acompanhamento de nosso trabalho pelos representantes que temos nos locais de trabalho e pelo conjunto da categoria. Como a diretriz principal de nossa diretoria é a autonomia, é ela que norteia toda a nossa ação. Por isso, precisamos estar nas lutas pelo fortalecimento do Banco como fomentador do desenvolvimento regional e em defesa da valorização e garantia de direitos de todos os funcionários. A partir daí, definimos algumas grandes operações que nortearão nosso trabalho como a luta por melhores condições de vida do povo nordestino, democratização das gestões da CAPEF e CAMED, garantindo os benefícios aos quais os funcionários (as) têm direito, a luta dos demitidos pelo Banco, no período de 1995 a 2003. A AFBNB vê isso como uma questão de honra e, por isso, buscamos trabalhar e avançar no que for possível, uma vez que eles foram demitidos numa gestão temerária. Outras lutas perpassam pela isonomia e melhores condições de trabalho. Para tanto investimos na organização e mobilização interna a fim de estimular a inserção de todos nestas lutas. Como parte deste processo de mobilização, priorizamos a organização de nosso Conselho de Representantes, que é um fórum que ocorre semestralmente e temos a oportunidade de ter a participação de nossos representantes de base. Isto serve tanto para aprimorar nosso planejamento como encaminhar as diversas lutas nos locais onde nossos representantes estão inseridos.

BLOG: Rita, as mulheres têm, depois de muitas lutas, conseguido alcançar postos cada vez mais altos, nas empresas e nas entidades de classe, entre outros espaços da sociedade civil. Contudo, percebemos que este número ainda não é significativo. Como você vê as dificuldades que ainda existem para que as mulheres ocupem uma posição equânime nesta sociedade capitalista global em que vivemos?

RITA JOSINA: Primeiro, é preciso compreender que existe uma determinação cultural, estabelecida historicamente, reservando para a mulher os papeis domésticos como o do cuidado da casa e de valores como caridade, docilidade, etc. Porém, com o passar da história e as diversas lutas, foi-se percebendo que a sensibilidade feminina poderia ser um fator fundamental no desempenho de atividades de outras esferas da vida social e econômica. Citarei até aqui uma frase bastante difundida após ter sido proferida pela nossa presidenta, Dilma Roussef, que cada mãe deveria olhar para sua filha e afirmar: “Você pode”. E, de fato, isso também aconteceu comigo. Minha mãe olhou para mim e disse: “É, realmente, você pode.”

 "Isso é uma forma de dizer que, apesar de toda a sobrecarga de trabalho que todas nós, mulheres, temos, como cuidar da casa, do filho, do marido, faculdade, ainda assim, somos capazes de enfrentar e vencer desafios antes só realizados por homens, muitas vezes, com a mesma eficiência ou mais."
Apesar de sermos ainda minoria quantitativamente nos postos de direção, isso vem mudando, e vejo que há uma participação cada vez mais crescente de nós mulheres ocupando postos decisivos. E isso a gente percebe pela disposição e vontade cada vez maior por parte das mulheres em vencerem essas barreiras. Eu já recebi diversos depoimentos, declarações e apoios que recebi de muitas mulheres, então percebo que algum referencial vem se consolidando do ponto de vista da participação feminina...

BLOG: Na própria campanha?

RITA JOSINA: Na própria campanha. Colegas que diziam: eu ainda não estou preparada para estar aí, mas um dia eu chego lá... A gente fica muito feliz porque vê a disposição delas entrarem nesta luta. E que se, às vezes, não estão ainda, se deve talvez ou a alguma falta de oportunidade ou mesmo questões relativas ao tempo. Isso não se pode negar. Eu mesma vejo e sinto essa dificuldade. O tempo que tenho para poder participar numa assembleia tem de encontrar compatibilidade com o tempo que tenho para cuidar de meu filho, que ainda é um bebê, por exemplo. E aí quando tenho de viajar, já todos em casa sentem minha falta. Mas, mesmo assim, apesar de todas as demandas que nos sobrecarregam e a mim, em particular, neste caso, estou aqui tentando fazer a minha parte.
                                                   
BLOG: Nos parece, começando muito bem...

RITA JOSINA: Estou motivada...

BLOG: Rita, atualmente vivemos um momento extremamente difícil para a classe trabalhadora, em que centrais sindicais e sindicatos foram para dentro do governo e abandonaram a relação de autonomia que o movimento sindical deveria resguardar frente aos patrões. Quando fazem greves, nós percebemos que trata-se apenas de cumprir um rito e um calendário, pois ou os acertos se dão nos bastidores entre “antigos companheiros”, ou o sindicalismo para evitar qualquer confronto ou desgaste do governo, não age com responsabilidade na defesa dos direitos da classe trabalhadora. Como você enxerga esta realidade e qual o seu posicionamento e da AFBNB?

RITA JOSINA: Esse foi um momento inédito em que tivemos um trabalhador que chegou ao governo, o que não implica a tomada de poder. Até porque existem várias questões políticas envolvidas. Há ainda muita falta de consciência da classe trabalhadora quando da eleição de diversos representantes... Aliado a isso, algumas alianças foram feitas em nome da governabilidade e isso impediu diversos avanços. Outro fator que não pode deixar de passar pela nossa avaliação é o próprio sistema capitalista, a forma como ele é organizado, que permite pouca margem a mudanças. E o próprio poder...  E penso que foi o que ocorreu com diversos sindicalistas, grupos, centrais que chegaram a um determinado estágio de poder do qual não querem abrir mão diante das benesses conquistadas para si, as suas conveniências. E com isso vem a acomodação política, a “camaradagem” e podemos dizer, a falta de compromisso com o coletivo. Entre a luta coletiva dos trabalhadores e os benefícios individuais conquistados para si ou para seu grupo, alguns preferem fazer a escolha pela segunda opção.
Por isso, na AFBNB, buscamos assumir uma postura crítica diante da atual conjuntura. É preciso entender que saímos de um período de...

BLOG: Destruição...

RITA JOSINA: Sim, de verdadeira destruição em gestões anteriores, onde as pessoas viviam com auto-estima baixa, falta de reconhecimento do Banco pela sociedade, etc. Depois veio a transição, um outro momento, onde as pessoas passaram a ... - não é o melhor dos mundos – mas as pessoas passaram a se sentir melhor no Banco. Contudo, por outro lado, é inadmissível, que exista ainda hoje no Banco casos de assédio moral...

BLOG: Você colocou inclusive no seu artigo “Novos tempos para o Nordeste” publicado no jornal O POVO no dia 21 de janeiro...

RITA JOSINA: Exatamente. Logicamente que o Banco mudou se comparado com o período anterior, mas ainda persistem vários problemas como este que é inadmissível. E, apesar de toda a luta que temos feito, ainda não conseguimos mudar esta realidade completamente. Há ainda diversos problemas que perduram como é o caso de passivos trabalhistas, que já estão há bastante tempo: licença prêmio, folga, equiparação...

BLOG: A própria isonomia, né, entre novos e antigos...

RITA JOSINA: Correto. São coisas que ficam sendo postergadas, ao invés de se buscar solucionar, seja por acordo ou outros meios. Nós, da AFBNB, não achamos razoáveis as justificativas que vêm sendo dada, como a dependência em relação ao DEST, uma vez que se trata do reconhecimento de direitos e conquistas dos funcionários e demonstraria o interesse do banco em valorizar o seu corpo funcional. O Banco precisa, deve encontrar meios para solucionar estas questões.



BLOG: Bem, Rita, essa nossa questão tem a ver, de algum modo, com a anterior... Nossa categoria conseguiu resistir e superar os difíceis anos de FHC. No caso do BNB, a escabrosa gestão de Byron Queiroz. Entretanto, não apenas no Banco do Nordeste, mas em todos os bancos públicos (ou de maior participação do Estado), vários direitos ainda são negados aos funcionários contratados (as) pós-98. O sindicalismo de resultado da direção majoritária da CUT tem feito questão de jogar para debaixo do tapete, usando uma expressão bem popular, a luta pela reposição das perdas salariais e mesmo a isonomia entre antigos e novos funcionários. Qual a posição da AFBNB com relação a estas questões que prejudicam a todos(as), sobretudo os novos funcionários (as)?

RITA JOSINA: É. Acho que já até falei sobre nossa posição com relação a estas questões, sim? Os passivos trabalhistas, isonomia... Por isso queria destacar um aspecto que tem a ver com esta questão, contextualizando-a melhor. Ora, a estrutura bancária faz parte de um sistema financeiro capitalista, que busca cada vez mais a supervalorização de seu capital, dos lucros, fazendo de tudo para alcançá-la. É neste contexto que se dá a retirada de direitos e a precarização do trabalho. Desta forma, consideramos muito ruim que as diversas questões relacionadas ao trabalhador, deixem para serem resolvidas tão somente no período da campanha salarial, questões que poderiam fazer parte de uma política de valorização do trabalhador. Fica tudo misturado e aí quando alguns pouquíssimos pontos são negociados, passa-se a ideia de que avançamos na luta, quando, na verdade, questões importantíssimas são postergadas ano após ano. Por isso, aqui na AFBNB, procuramos mostrar que a negociação deve ocorrer no dia-a-dia. E é isso que cobramos. Planos de carreira, de função, isonomia, saúde do trabalhador...

BLOG: E a posição da AFBNB com relação às perdas históricas da época de FHC? Pergunto isso porque o sindicalismo oficial não fala nisso, ao invés, utiliza o termo “ganhos reais”. Já temos oito anos que acabou o governo FHC. Daqui a pouco serão 12, 16, e isso já terá sido definitivamente “jogado para debaixo do tapete”. Esta foi uma das armações que a direção majoritária do movimento organizou...

RITA JOSINA: A AFBNB tem um papel fundamental nisso, primeiro porque tem apoiado os sindicatos que têm tido um papel histórico na defesa dos direitos dos trabalhadores, e informando e mobilizando para a participação de todos. O exemplo de uma luta que insistentemente a AFBNB tem feito é em torno do plano de carreira, como forma de dizer que queremos o reconhecimento do trabalhador e que o salário do bancário hoje é muito baixo e que as perdas salariais do período anterior refletem nessa realidade.

BLOG: Rita, queria agradecer a oportunidade de poder entrevistá-la, nesta que é a primeira edição do nosso ENTRE-VISTAS do blog maisbancarios e deixar aqui o espaço para uma mensagem sua àqueles e àquelas que nos acompanham em nosso blog.

RITA JOSINA: Bem, primeiro eu também quero agradecer esta oportunidade. Hoje estou tendo a oportunidade de dialogar com diversas entidades, diversos setores e isso tem sido muito importante na construção de um diálogo e fortalecimento do movimento. A gente vê que a nossa luta tem muito a ver com a luta de outros grupos, de outros sindicatos. Estamos torcendo porque vemos surgir novas lideranças que estão sendo reconhecidas. Gostaria inclusive de salientar a recente eleição da nova gestão da AEBA (Associação dos Empregados do Banco da Amazônia) porque lá foi eleita uma diretoria com a qual guardamos diversas afinidades, como compromisso na defesa dos direitos dos trabalhadores com autonomia. Também percebo um interesse mais crescente por parte das mulheres em participar dos espaços. Eu, particularmente, tenho uma vivência mais técnica e penso que posso dar uma contribuição importante, nesse aspecto, ao movimento: unir a técnica à política. Acredito que isso fortalece, dá mais qualidade e ajuda na fundamentação. Tenho consciência de que o desafio é enorme, mas não há como voltar atrás, agora é olhar e seguir em frente, enfrentando as limitações que todos nós temos. Na AFBNB, nossa luta é bastante ampla pois alia a ação institucional, com debates sobre a nossa defesa da necessidade de um plano de desenvolvimento para o nordeste, e não se omite na a luta das relações trabalhistas, e entendemos que assim é que deve ser. Quero dizer que estamos aqui à disposição para dialogar.

BLOG: Legal! Obrigado, Rita. Parabéns a você e a toda esta diretoria que mantém como princípio firme o da autonomia na defesa dos interesses das trabalhadoras e trabalhadores!

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