Em apoio à greve dos bancários: por salário e condições dignas de trabalho
Senhor Presidente, senhoras e senhores Deputados,
Depois de 40 dias de negociação e de uma proposta da Federação Nacional dos Bancos muito aquém das necessidades dos trabalhadores, os bancários decidiram entrar em greve geral. A partir da próxima terça-feira, em todo o país, nas instituições públicas e privadas, a greve unificada será a resposta à intransigência dos bancos e do governo Dilma às reivindicações por melhores salários e condições dignas de trabalho.
Apesar dos lucros milionários, o setor bancário
se recusa a olhar para aqueles que são responsáveis diretos pelo seu
enriquecimento: os trabalhadores. É certo que, no Brasil, há tempos os
banqueiros se beneficiam desta política econômica, de juros estratosféricos, do
maior spread do mundo, de liberdade para cobrar taxas e tarifas mais do que
abusivas dos clientes e de enormes facilidades ao capital financeiro. Mas não
vem apenas daí os recordes nos balanços das instituições financeiras. A brutal
exploração a que estão submetidos os trabalhadores do setor contribui – e muito
– para esta altíssima taxa de lucratividade. Mas parece que este é um lado da
moeda que ninguém se orgulha de mostrar. Por que será?
Por exemplo, após a fusão, o Banco Itaú Unibanco
se tornou campeão de lucro no sistema financeiro. Nos seis primeiros meses de
2011, seu lucro líquido foi de nada menos de R$ 7,1 bilhões. No entanto, os
acordos de não demissão firmados com os sindicatos na época da fusão seguem
solenemente ignorados. A lógica que impera é a da rotatividade, ou seja, a
demissão de funcionários com algum tempo de casa e a contratação de outros, com
salários bem inferiores, para executar as mesmas funções.
No Santander, o que mais demite, a falta de
funcionários não apenas levou o banco à posição de campeão de reclamações no
Procon e no Bacen mas também na Justiça do Trabalho. Aqueles que ficam,
chegaram a um grau de esgotamento e pressão insuportável. Mas o medo da
demissão se tornou uma ferramenta para assegurar a exploração do trabalhador. O
desrespeito à jornada de trabalho, sem pagamento correto de horas extras, virou
rotina e a cobrança de produção é diária.
Com a crise na Europa, nosso país passou a ser a
menina dos olhos de bancos estrangeiros, cujas agências no Brasil receberam a
missão de alcançar resultados para remunerar a contento seus acionistas. Hoje,
25% do lucro mundial do Santander vem exatamente do Brasil. E qual a
contrapartida? Mais demissões!
Outro problema seríssimo enfrentado pela
categoria é o assédio moral, prática que foi institucionalizada no setor.
Cotidianamente, os trabalhadores são humilhados e pressionados de toda maneira
para cumprir metas inatingíveis, empurrando produtos e serviços aos clientes.
Praticamente todos os bancos adotam uma cobrança por metas. E o resultado, além
do aumento do lucro dos bancos, é a destruição da saúde física, emocional e
psicológica de milhares de trabalhadores.
No Bradesco, a situação seria cômica, se não
fosse trágica. A nova campanha “motivacional” do atendimento do banco, criada
para “incentivar” uma disputa entre os funcionários que trabalham neste setor,
premia por mês os dois atendentes com “melhor aderência”, ou seja, que
respeitarem o limite de pausas no trabalho, e o “melhor TMC” – tempo médio de
contato com o cliente – leia-se “quem atender o maior número de ligações no
menor tempo”. O “prêmio” para os melhores classificados é um convite que dá
direito a uma visita de quinze minutos à sala de descanso e descompressão da
agência, que é um direito de todos os trabalhadores!
Trata-se, portanto, de um quadro gravíssimo, que
também se repete nos bancos públicos, geridos sob a mesma lógica das
instituições privadas. Assim, trabalhar hoje em uma instituição bancária
significa se submeter a condições de trabalho inaceitáveis. E foi isso o que
levou os bancários à decisão de entrar em greve geral a partir da próxima
semana. Com toda razão, não suportam a pressão por metas, os baixos salários, o
assédio moral e a sobrecarga de trabalho, enquanto vêem os cofres de seus patrões
engordando sem limites.
Manifestamos aqui então, senhoras e senhores
Deputados, todo o nosso apoio e solidariedade à luta dos trabalhadores e
sindicados da categoria bancária, que estão se propondo, através da greve e do
diálogo com a população, pressionar a direção das empresas e o governo federal
a garantirem condições dignas de trabalho.
Da mesma forma, reafirmamos o compromisso do PSOL
com a defesa dos direitos dos trabalhadores e por uma mudança na política
econômica do país, que atualmente beneficia banqueiros, grandes empresários,
rentistas e especuladores e, na outra ponta, explora os trabalhadores.
Muito obrigado.
Ivan Valente
Deputado Federal PSOL/SP
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